ÁSIA: Aspectos culturais e geopolítica
O continente que possui como referência de origem a região da Mesopotâmia atravessou os séculos sendo povoado por etnias e culturas diversificadas.
Como não poderia ser diferente, os conflitos pela conquista territorial atingiram e continuam atingindo os cidadãos comuns, em todas as faixas etárias, espalhando sofrimento e pobreza em grande parte das nações.
As guerras entre os povos da Ásia estão relacionadas à intolerância étnica e cultural, com intenso envolvimento de outros países transcontinentais.
1. Aspectos culturais – religião
A Ásia é conhecida como o berço das três principais religiões monoteístas: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Também é o continente onde surgiram influentes religiões como o confucionismo, o xintoísmo, o taoísmo, o budismo e o hinduísmo.
Em todo o espaço asiático se desenvolveram dezenas de conflitos regionais. Na maior parte, encontramos uma relação direta com as religiões. Estas, associadas a interesses políticos e econômicos, constituem o principal pretexto para a violência e movimentos separatistas.
Para melhor entender a luta territorial e cultural do maior e mais populoso continente do planeta, vamos estudar as quatro religiões relacionadas com os principais conflitos locais.
A. Judaísmo
A principal diferença do judaísmo em relação às demais religiões está na identidade de um povo, que vai além da prática dos rituais. Nesse grupo, estão inseridos os judeus étnicos, podendo, ou não, adotar os princípios religiosos.
A religião está fundamenta nos ensinamentos da Torá que reúne os cinco primeiros livros da Bíblia, e do Talmude, que complementa as regras da tradição judaica. Como principais práticas, o judaísmo ortodoxo observa o sábado bíblico como dia especial dedicado apenas às ações estritamente religiosas, celebra as festas tradicionais e mantém restrições a determinados alimentos.
A origem dos judeus
A Palestina compõe uma estreita faixa de terra localizada ao sul do Líbano. A oeste limita-se com o Mar Mediterrâneo; a leste, com o deserto Arábico; e ao sul, com a Península do Sinai. O Rio Jordão, que nasce no Lago Tiberíades e deságua no Mar Morte, divide o país em duas regiões. Na Palestina, existem cadeias de montanhas separadas por pequenos vales férteis.
No conflito entre árebes palestinos e judeus israelenses, existe, além das diferenças étnicas e religiosas, um grande sentimento de posse territorial, justificado pela trajetória histórica de cada povo. Os judeus apóiam-se no direito conquistado pelo fato de sua origem estar relacionada com o território em disputa, origem que é relatada na Bíblia a partir do capítulo 12 do primeiro livro (Gênesis). Há aproximadamente quatro mil anos, o patriarca Abraão, reconhecido pelas três religiões já mencionadas, foi conduzido por Deus da “Terra de Ur”, sul do Iraque, até a “Terra de Canaã”, Palestina, onde nasceram seus filhos, netos e bisnetos.
Jacó, neto de Abraão, migrou para o Egito, juntamente com toda a sua família que, mais tarde, constituiria as doze tribos de uma nação conhecida como Israel. Porém, antes que a nação se organizasse, foram explorados pelos egípcios, como escravos, durante quase quatrocentos anos.
Liderados por Moisés, deixaram o Egito, atravessaram o Mar Vermelho, receberam os Dez Mandamentos no Monte Sinai e, após uma peregrinação de quarenta anos pelas regiões desérticas e montanhosas da Palestina, conquistaram Canaã.
As doze tribos, regidas a princípio por juízes, adotaram posteriormente a unificação política sob o governo de um rei, tendo como capital a cidade de Jerusalém. Salomão, o terceiro rei dos hebreus, concretizou a edificação de um belíssimo templo que passou a ser uma referência em Jerusalém devido à sua importância como local designado para acomodar a Arca da Aliança, onde se encontravam as tábuas com a inscrição dos Dez Mandamentos.
As doze tribos fragmentaram-se em 935 a.C em dois reinos: o Reino de Israel, constituído por dez tribos, tendo como capital a cidade de Samaria, e o Reino de Judá, que reunia duas tribos e sua capital era Jerusalém. A partir de 722 a.C, o Reino de Israel passou a ser dominado pelos assírios. Em 586 a.C. o Reino de Judá foi subjugado pelos babilônicos, que destruíram o templo de Jerusalém, o qual seria reconstruído durante o domínio persa.
O templo foi novamente destruído pelo Império Romano, no ano 70 d.C. (início da era cristã). Desde 37 a.C. os romanos dominavam a Palestina. Com a destruição do templo, restou apenas parte do muro, que ficou conhecido como “Muro das Lamentações” que recebe visitantes do mundo inteiro, principalmente judeus.
B. Islamismo
Com sua origem na Península Arábica, no século VII, o islã, islamismo, religião mulçumana ou maometana, apresenta uma forma de sincretismo entre o judaísmo e o cristianismo. O principal ponto em comum consiste no reconhecimento do patriarca Abraão como a raiz do islã.
A organização do islamismo iniciou-se por meio do profeta Maomé, que elaborou parte dos princípios e regras contidos no Corão, posteriormente escrito pelos seus sucessores.
A religião está baseada em princípios fundamentais que, somados às demais regras, constituem um complexo manual de caráter social, religioso e jurídico.
Os seguidores do islamismo devem pronunciar a Shahada ou testemunhar que não existe outro Deus além de Alá e que Maomé é seu profeta.
Com o rosto voltando para Meca, cidade do nascimento de Maomé, os fiéis oram cinco vezes durante o dia: pela manhã, ao meio-dia, à tarde, durante o pôr do sol e à noite.
Os governos islâmicos recebem dos seguidores uma oferta ou taxa fixa calculada sobre determinada porcentagem, que, como em todas as demais determinações, é realizada de forma rigorosa.
Durante o mês conhecido como Ramadã, os muçulmanos praticam o jejum e, completando as principais normas, é necessário que no mínimo uma vez na vida os fiéis façam uma viagem de peregrinação a Meca.
Com a morte do profeta, em 632 d.C., as divergências relativas ao seu substituto dividiram a comunidade islâmica em sunitas e xiitas. Os sunitas defendiam a sucessão do líder Maomé por qualquer indivíduo que apresentasse obediência e comprometimento com a religião, enquanto os xiitas defendiam a liderança hereditária: somente os descendentes do profeta teriam o direito de ocupar seu lugar.
Atualmente, o islamismo integra mais de um bilhão de adeptos em todo o mundo. No entanto, as maiores concentrações estão em países da Ásia Central, meridional, ocidental e no sudeste, estendendo-se pelo continente africano.
Mais do que uma religião comum, o islamismo assimilou o governo de diversos países, em alguns casos adotando o sistema fundamentalista caracterizado pela rigidez extrema de suas leis e desrespeito aos direitos humanos, em especial aos direitos da mulher.
Embora a religião islâmica seja utilizada como pretexto para ações terroristas e conflitos, os verdadeiros motivos podem ser atribuídos em muitos casos à disputa pelas riquíssimas reservas de petróleo na região do Oriente Médio e pelo controle da água, recuso escasso e vital para o desenvolvimento econômico.
C. Hinduísmo
Ao contrário das demais religiões, o hinduísmo não possui um fundador. Pode ser considerado um conjunto de crenças que tiveram sua origem na Índia por meio dos povos antigos que ocuparam a região do vale dos rios Indo e Ganges, há aproximadamente 3.500 anos. Durante todo esse tempo, várias culturas que dominaram a Índia foram assimiladas pelo hinduísmo, como o islamismo e mais recentemente o cristianismo.
Entre centenas de deuses e deusas presentes na religião, os mais populares são: Brahma, que simboliza a divindade universal, Shiva, o destruidor, e Vishnu, o protetor.
As datas dos primeiros livros do hinduísmo não são precisas. Os ensinamentos durante muito tempo foram transmitidos oralmente. Por volta do ano 1.000 a.C. surgiram os Vedas, textos épicos que relatam situações associadas ao monoteísmo e ao politeísmo.
O hinduísmo acredita na reencarnação como conseqüência das boas ou más ações praticadas, podendo o indivíduo se libertar desse ciclo ao atingir a iluminação. Outra crença fundamental prega que todos os seres vivos fazer parte do mesmo espírito. Os animais merecem o mesmo tratamento atribuído aos seres humanos. A vaca é considerada animal sagrado, representando o respeito aos animais. A forma como o hinduísmo considera os animais leva grande parte dos seus seguidores adotarem o regime vegetariano.
No Rio Ganges, os hindus realizam rituais de purificação, banhando-se ou até mesmo ingerindo as águas poluídas e contaminadas PR esgotos e cadáveres. O rio é cultuado como elemento sagrado. Nas águas, são lançados os corpos de familiares que não possuem condições financeiras para pagar um pira funerária para cremar o corpo às marges do rio. Os corpos se decompõem, carregados pela correnteza, ou são devorados por aves. Ao lançar nas águas as cinzas ou o próprio cadáver, acreditam que a felicidade eterna foi garantida para a alma que partiu.
A sociedade hindu, embora com menor rigidez que no passado, está dividida por um sistema de castas que classifica o indivíduo de acordo com sua situação de nascimento, hereditariedade e atividade profissional.
Conforme o sistema original, os nobres e sacerdotes pertencem à casta dos brâmanes; os guerreiros integram os xátrias; camponeses e comerciantes os vaixias. Há também a casta dos escravos. Aqueles que não se enquadram em nenhuma destas são definidos como párias, a classe mais baixa da pirâmide social do hinduísmo, que marginaliza uma parte da população condenada a viver em extrema miséria.
Na atualidade, a Índia possui milhares de castas e subcastas que mantêm a tradição de não se misturarem entre si.
Mahatma Gandhi (1869-1948) foi um dos grandes mestres do hinduísmo. Sem o uso da violência, ele lutou contra a dominação britânica na Índia, alcançou grande destaque internacional e presenciou a independência de seu país em 1947. Suas principais armas eram as greves e os boicotes aos produtos ingleses, fato conhecido como “desobediência civil”.
D. Budismo
No século VI a.C., o jovem príncipe nascido no Nepal, Sidartha Gautama, inconformado e buscando explicações para a doença e a morte, encontrou as supostas soluções. Teve seu nome substituído por Buda, “o iluminado”, tornou-se o fundador da religião budista e decidiu ensinar sua doutrina na Índia. Sidartha defendia uma revolução religiosa que abolisse o sistema de castas do hinduísmo.
Durante a invasão islâmica no século XII, o budismo foi enfraquecido na Índia, sendo ramificado para outras regiões, obtendo grande aceitação de seus ensinamentos. Alcançou elevado número de adeptos, principalmente no Sri Lanka, Ásia Central, Oriental e Sudeste.
Segundo seus ensinamentos, o egoísmo humano é considerado o motivo da miséria existente no mundo, e como solução, apresenta oito caminhos definidos como: crenças corretas, esforços corretos, ideais corretos, obras corretas, ações corretas, maneira correta de ganhar a vida e meditação correta.
O amor atua como única forma de banir o ódio e deve ser direcionado a todos, mesmo aos inimigos.
Durante toda a vida, os seguidores do budismo buscam, por meio da meditação, atingir o estão máximo de paz de espírito e de amor, denominado Nirvana, única maneira de romper a corrente da reencarnação. Segundo a doutrina budista, o ser humano está sujeito a reencarna inúmeras vezes e enfrentar o sofrimento proporcional às suas ações.
Parte dos ensinamentos budistas foi originada das práticas do hinduísmo. Embora seja considerada a religião principal de vários países asiático, existem correntes diferentes da mesma religião.
As comunidades budistas, uma vez oprimidas, não utilizam recursos relacionados à violência para defender-se. Sua reação pacífica caracteriza o fortalecimento da dominação por nações inimigas.
2. Israel e Palestina – o conflito pela terra
O cenário onde ocorre um dos conflitos mais duradouros, com influência na geopolítica mundial, está localizado no Oriente Médio. Essa região abrange 15% do continente asiático, sendo aproximadamente 6,6 milhões de km², divididos de maneira desigual entre os dezesseis países independentes. A Arábia Saudita, o Irã, a Turquia, o Afeganistão e o Iraque ocupam juntos aproximadamente 85% do território regional, enquanto o restante, em torno de 15%, é ocupado pelas nações menores: Kuwait, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Israel, Líbano, Síria e Jordânia.
A. A Diáspora Judaica
Adriano, o imperador Romano expulsou os judeus da Palestina em 135 d.C. Eles se espalharam pelos países árebes e por todo o mundo. Essa dispersão, que durou até 1948, ficou conhecida como “Diáspora Judaica”. Enquanto estiveram residindo em países estranhos, os judeus sempre formaram comunidades próximas a uma sinagoga, fortalecendo assim seus costumes e resistindo ao preconceito que se intensificava à medida que prosperavam nas mais diversas atividades, como no comércio, na medicina, entre outras.
Os povos árabes muçulmanos, a partir do século VII, foram ocupando a região da Palestina, até que no século XVI passou a ser dominada pelos turcos otamanos seguidores do islã e, após a Primeira Guerra Mundial, pelos franceses e ingleses cristãos.
B. O sionismo
O conflito entre árabes e judeus na Palestina desencadeou-se no fim do século XIX, quando surgiu o movimento conhecido como “sionismo”. Este consistia no retorno dos judeus para a “Terra Prometida” com o objetivo de formar o atual Estado de Israel. A intensa migração dos judeus dos vários pontos do globo e a aquisição de propriedades na Palestina atingiu grandes proporções, ameaçando assim o domínio árabe sobre a região. O movimento durou até 1948.
Os judeus, convictos do seu direito de propriedade sobre as terras em questão, argumentam que goram obrigados pelos romanos a abandoná-las. Entretanto, se elas lhes pertencem desde a Antiguidade, os palestinos também se sentem donos d região pelo fato de terem habitado lá durante todo o tempo em que foi abandonada e, nesse período, a Palestina se transformou em sua pátria.
Por meio da Declaração de Balfour, o Reino Unido, em 1917, apoiou a criação de um Estado Nacional para os Judeus, motivando ainda mais conflitos.
Apesar da resistência da maioria das nações árabes em todo o Oriente Médio, a ONU aprovou, em 29 de novembro de 1947, a partilha da Palestina e a criação do Estado do Israel, que representava 56,5% (14.000 km²); os palestinos teriam 42,9% (11.500 km²). Jerusalém, por ser um importante símbolo para os judeus, árabes e cristão, seria considerada área internacional. Em julho de 1948 foi proclamado o Estado de Israel.
C. Conflitos históricos
Os confrontos entre árabes e judeus, na Palestina, foram constantes nos últimos cem anos, a partir da imigração judaica, e se tornaram mais violentos com a criação do Estado de Israel, desencadeando guerras regionais em todo o território palestino.
A Guerra da Partilha
Iniciou-se em julho de 1948. Logo após a criação do Estado de Israel, e durou até janeiro de 1949. Israel venceu cinco países árabes (Egito, Iraque, Líbano, Transjordânia ou atual Jordânia e Síria) e aumentou seu território em mais de 40%. Cerca de 800 mil palestinos deixaram Israel. A Jordânia ficou com a Cisjordânia e o Egito com a Faixa de Gaza. Jerusalém foi dividida entre israelenses e jordanianos.
A Guerra do Canal de Suez
O canal de Suez, que liga o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, representava uma importante passagem para os navios europeus. Em julho de 1956, Gamal Abdel Nasser, presidente do Egito e aliado aos palestinos, anunciou a nacionalização do Canal de Suez, provocando o descontentamento da França e da Inglaterra, que tentava reconquistas parte dos antigos territórios coloniais.
Em outubro de 1956, as forças israelenses, em apoio à França e à Inglaterra, controlaram a área em disputa. Apesar da vitória militar das forças anglo-francesas e israelenses, a derrota foi diplomática devido à pressão norte-americana e soviética, que forçou a retirada das tropas vitoriosas da região do Canal de Suez.
A Guerra do Canal de Suez foi responsável por várias mudanças na geopolítica regional e mundial. O presidente Gamal Abdel Nasser tornou-se o principal líder árabe com objetivo de fortalecer sua política nacionalista e integrar o mundo árabe, apoiando na década de 1960 a criação da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). O colonialismo anglo-francês foi substituído pela supremacia dos Estados Unidos e da União Soviética.
A Guerra dos Seis Dias
O mapa da Palestina foi novamente alterado em 1967, no conflito que envolveu os israelenses e os palestinos, que receberam o apoio do Egito, da Síria e da Jordânia. Israel obteve a vitória inquestionável em apenas seis dias de confronto. Como resultado, ocupou a Península do Sinai e a Faixa de Gaza, do Egito, a Cisjordânia, da Jordânia, e as Colinas de Golã, da Síria.
O mundo árabe estacionou o seu movimento de unificação, conhecido como “pan-arabismo”, e Israel se consolidou como potência militar no Oriente Médio.
A Guerra do Yom Kippur
No dia 6 de outubro de 1973, enquanto os judeus comemoravam o Yom Kippur, Dia do Perdão, foram atacados de surpresa por uma coligação entre o Egito e a Síria. Porém, o contra-ataque de Israel foi arrasador. A assinatura de um cessar-fogo foi concluída no dia 22 de outubro, sob a imposição do presidente dos EUA, Richard Nixon, e o soviético Leonid Brejnev.
A Guerra do Yom Kippur foi considerada a última entre Israel e Palestina, entretanto a tensão na região é contínua.
Intifada
No período compreendido entre 1987 e 1993, os palestinos enfrentaram os israelenses na revolta das pedras, denominada de “Intifada”. Armados de pedras e paus, os cidadãos comuns atacavam os soldados de Israel. A prática de inúmeros atentados por grupos terroristas contra os judeus intensificou o conflito.
Em 2000, uma segunda Intifada foi deflagrada durante a visita do premiê de Israel, Ariel Sharon, à Esplanada das Mesquitas, um lugar sagrado para os islâmicos.
A formação da OLP
Liderado por Yasser Arafat, em 1959, surgiu um grupo terrorista palestino “Al Fantah”, que tinha por principal objetivo reconquistar o território perdido na Guerra da Partilha, em 1949. Cinco anos mais tarde, em 1964, esse movimento seria reconhecido pelos países árabes como Organização para Libertação da Palestina (OLP).
Em 1974, a OLP foi aceita pela ONU como única representante dos palestinos. Em 1988, seu líder, Yasser Arafat, renunciou ao terrorismo, reconheceu a existência do Estado de Israel e manteve a luta pela consolidação do Estado palestino.
Após o reconhecimento da OLP pela ONU, os palestinos reforçaram o nacionalismo entre a população e proporcionalmente o ódio em relação a Israel, o que pode ser constatado nas diversas reações dos palestinos, como a ocorrida na primeira Intifada ou “Revolta das pedras”, quando jovens, crianças e idosos, em 1988, rebelaram-se contra as ordens do exército israelense e os enfrentaram atirando pedras. Nesse confronto, milhares de palestinos goram mortos.
D. O difícil processo de paz
Em meio a tantas guerras, perdas históricas, econômicas e principalmente humanas, iniciou-se o lento e indefinido processo de paz entre os árabes e os judeus, que ainda não se concretizou devido à resistência de ambos os lados.
Em 1978, Egito e Israel formalizaram o acordo de Camp David, tendo como intermediador o presidente dos EUA, Jimmy Carter. Esse acordo estabeleceu a devolução da Península do Sinai ao Egito e o reconhecimento do Estado de Israel por parte do Egito. Apesar da reprovação da maioria dos países árabes, o acordo de Camp David foi respeitado por Israel e Egito.
No início da década de 1990, por iniciativa diplomática da Noruega e de diversos países, israelenses e palestinos realizaram importantes encontros para negociar a paz. Israel, representado por Yitzhak Rabin, e a Palestina, representada por Yasser Arafat, assinaram, em 1993, um acordo pelo qual Israel devolvia aos palestinos a Faixa de Gaza e a cidade de Jericó. Outros acordos foram assinados em maio de 1994. Em setembro de 1995, foram devolvidas aos palestinos outras áreas ocupadas por Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Os acordos foram interrompidos pelo descontentamento de judeus e árabes radicais que não apoiavam o entendimento entre as duas nações. Rabin foi assassinado por um fanático judeu. As novas lideranças que assumiram o poder político em Israel dificultaram as negociações de paz que, apesar das várias tentativas, sempre fracassaram.
Uma nova proposta de paz aconteceu em 2000, em Camp David, nos Estados Unidos. Israel se comprometeu a retirar parcialmente suas tropas dos territórios ocupados pelos palestinos e aceitar a soberania de parte desses territórios. Novamente, o acordo não se concretizou, pois o líder Yasser Arafat exigiu soberania plena das áreas sagradas de Jerusalém e o retorno dos refugiados.
Com o argumento de ser proteger de ataques terroristas, o governo de Israel iniciou, em 2002, a construção de um muro que separa as áreas habitadas por palestinos e israelenses. A construção é um conjunto de estrutura de concreto que atinge até oito metros de altura e cercas de arame farpado, além da instalação de sensores eletrônicos e controle militar em todo o percurso da barreira. Tudo isso limita o deslocamento das pessoas e amplia o controle territorial israelense. O muro de proteção dificulta a paz na região, uma vez que representa segregação das comunidades palestinas e aumenta a hostilidade entre os povos.
A partir de 2007, a Autoridade Nacional Palestina (ANP) passou por um acordo entre os líderes dos partidos Fatah e Hamas. Formou-se um governo de coalisão, com conflitos internos e distanciamento do diálogo com Israel.
As principais barreiras para a paz entre Israel e Palestina são os atentados terroristas e a dificuldade em estabelecer uma fronteira territorial definitiva e soberana na região.
Com a morte de Yasser Arafat e a eleição de uma nova liderança no Estado palestino, em 2004, iniciou-se um processo de negociação de paz. Em troca da promessa de contenção dos grupos radicais terroristas por parte da autoridade palestina, em 2005, Israel iniciou um processo de desocupação de algumas cidades que seriam devolvidas aos palestinos. A primeira delas foi Jericó, em 15 de março desse ano. No mesmo ano, sob protestos israelenses, a Faixa de Gaza foi desocupada para ser apropriada pelos palestinos.
3. Iraque – guerra e paz
Localizado em região de contínuos conflitos, o Iraque protagonizou nas últimas décadas confrontos internos, regionais e foi invadido pelos Estados Unidos. A seguir, estudaremos a Guerra do Golfo e a invasão estadunidense no território iraquiano, acontecimentos geopolíticos que atingiram proporções em escala regional e mundial.
A. Guerra do Golfo
O Kuwait, pequeno país localizado ao sul do Iraque, na região do Golfo Pérsico, com o apoio militar da Grã-Bretanha, resistiu às várias tentativas de ocupação iraquiana ocorridas ao longo do século XX.
Com Saddam Hussein no poder, a partir de 1979, o exército iraquiano foi armado com modernos equipamentos adquiridos da ex-União Soviética, Estados Unidos, Brasil e de outros países, objetivando a liderança do Oriente Médio.
O domínio do Kuwait representava a apropriação da terceira maior reserva de petróleo do planeta, fortalecendo a economia do Iraque em relação às demais nações do mundo árabe.
A invasão do exército de Saddam Hussein, em agosto de 1990, causou a formação de uma aliança militar, liderada pelos Estados Unidos, com a participação da França e da Inglaterra. As batalhas foram transmitidas em tempo real pela televisão. As potências exibiam seu alto nível tecnológico em equipamentos bélicos, incluindo as armas químicas.
O confronto foi relativamente curto, entre 17 de janeiro e 27 de fevereiro. Saddam Hussein foi derrotado, porém permaneceu no poder. A Guerra do Golfo, como ficou conhecida, teve como conseqüências o saque de incalculáveis riquezas do Kuwait, campos de petróleo incendiados e minados pelo exército do Iraque, e o território iraquiano foi praticamente destruído. Diante da derrota iraquiana, os xiitas, ao sul, e os curdos, ao norte, em oposição ao governo iraquiano, revoltaram-se. Saddam enfrentou a guerra civil com muita violência, mantendo-se no poder.
B. Guerra do Iraque
Após os atentados sofridos pelos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, o Iraque passou a ser o alvo de combate ao terrorismo. Segundo o governo estadunidense, terroristas recebiam apoio de Saddam Hussein. Além disso, segundo os Estados Unidos, o Iraque teria armas de destruição em massa, o que seria uma ameaça. Esses argumentos, somados ao potencial de produção de petróleo do Iraque, e outros motivos políticos desencadearam um novo ataque aos iraquianos, em 2003, sob a liderança dos EUA, apesar da reprovação da ONU. O país oi praticamente destruído, Saddam foi preso, tendo início uma transição política para uma futura democracia.
O ataque dos Estados Unidos em território iraquiano causou certo desconforto para os países envolvidos diretamente na ação militar, como a Inglaterra, Espanha, Itália, Austrália e, principalmente, os próprios Estados Unidos. Apesar das alegações de existência de armamento de destruição em massa, nada foi encontrado. Em 2003, poucos dias antes do ataque, representantes das Nações Unidas concluíram que o Iraque não representava ameaça militar para os países ricos. Durante todo o período do conflito, a hipótese de presença de armas químicas e biológicas não for comprovada.
Em novembro de 2005, teve início o julgamento do ditador Saddam Hussein. No Tribunal Especial Iraquiano enfrentou acusações por crimes contra os direitos humanos e foi condenado à pena de morte. Seu enforcamento ocorreu em 30 de dezembro de 2006.
As tropas estadunidenses que ocuparam todo o país desde 2003 alteraram consideravelmente a organização política e social do Iraque. Os protestos contra a interferência internacional aumentaram os ataques terroristas e conflitos internos entre grupos rivais.
Com o fim do governo Bush, foi iniciada a retirada gradativa das tropas de combate estadunidenses, em junho de 2009, com a partida de todos os soldados somente em 2012.
4. Irã – poder divino
A segunda maior produção de petróleo do mundo é controlada pelo Irã, um país extenso e com uma população superior a 70 milhões de habitantes, com predominância da etnia persa.
Controlado pela dinastia Pahlevi desde 1921, a população xiita, cerca de 93% dos habitantes, condenava a ocidentalização do país e reivindicava o retorno do governo do aiatolá, líder religioso com poder político.
Na década de 1970, os protestos aumentaram e a revolução se fortaleceu. Em 1979, o líder Khomeini assumiu o poder até sua morte, em 1989. O Irã tornou-se uma república islâmica. Com a revolução de 1979, o Irã tornou-se um dos países com regime político mais fechado do mundo. Tem a maior representatividade do islamismo xiita do planeta e também é caracterizado por um sistema ultraconservador agravado pelo apoio do governo a diversos grupos extremistas como o Hamas e o Hesbollah.
O sistema de governo do Irã é dominado pelo líder supremo, o aiatolá, que assume o cargo por tempo indeterminado e controla as Forças Armadas, o sistema judiciário e a comunicação estatal. O presidente do país é eleito em voto direto a cada quatro anos. Porém, o Conselho dos Guardiães, formado por seis juristas e seis clérigos, é quem escolhe os candidatos autorizados a concorrer às eleições. O aiatolá também comanda o Conselho de Guardiães.
Com a eleição de Mahmoud Ahmadinejad à presidência, em 2005, o Irã investiu no enriquecimento do urânio, tendo em vista a produção de armas nucleares. Em 2009, sob acusações de fraudes, o presidente foi reeleito. O Irã passou por uma série de protestos populares reprimidos com violência pelo governo. Na ocasião, a imprensa internacional foi expulsa do país. As imagens da repressão foram divulgadas por meio da internet pela própria população local. A dimensão dos protestos foi comparada à revolução islâmica.
O perfil provocativo do Irã, caracterizado como uma nação beligerante, associado à sua produção de petróleo, representa forte ameaça à economia internacional.
5. Caxemira – a divisão cultural
Ao norte da Índia, localiza-se uma região de conflitos deflagrados a partir de 1947, ano da independência da Índia e do Paquistão.
A Caxemira, atualmente, é controlada pela China e pela Índia. Entretanto, a maior parte da população é muçulmana. Essa identidade cultural com o Paquistão é o argumento predominante para o conflito.
O conflito passou por intervenção da ONU. Em 1949 foi proposta a divisão do território. Entretanto a Índia apresentou resistência ao acordo e, em 1957, dominou a maior parte da Caxemira.
A Índia tem armas nucleares desde 1974. O Paquistão, em 1998, anunciou que também dominava esse recurso militar. O fato despertou o interesse mundial em acompanhar a geopolítica regional e intensificou a rivalidade entre os dois países.
Outro acontecimento que interferiu no conflito foi o atentado de militantes islâmicos do Paquistão a um grupo de turistas na cidade de Mumbai, Índia. A violência com fins políticos abalou a paz entre os países e a possibilidade de um novo acordo pode ser estender ainda por muito tempo.
6. O Tibete
O conflito entre a China e o Tibete foi marcado, nos últimos anos, por manifestações de monges exilados nas províncias chinesas. Na maioria das vezes, as ações de contestação foram reprimidas com extrema violência pelo governo. Mesmo com a realização das Olimpíadas, em 2008, e a divulgação da questão tibetana na mídia, não houve progresso nos acordos de paz na região, iniciados em 2002.
O império mongol obteve a conquista do território tibetano no século XIII, perdendo-o em 1720 para os chineses, que desde então consideram a posse do Tibete um direito conquistado.
O Tibete se beneficiou da crise política na China, desencadeada pela queda da dinastia Ching em 1912, expulsou as tropas inimigas e declarou sua independência sob a liderança do 13º Dalai Lama. Não reconhecendo a soberania do Tibete, em 1918 a China atacou o território em questão, resultando em mais um conflito armado. Com a morte do líder religioso e político, em 1933, a resistência tibetana enfraqueceu até ser dominada pelas tropas comunistas. A ONU foi solicitada, porém não interferiu na ocupação.
Uma semana após a ocupação chinesa, aos 16 anos de idade, o 14º Dalai Lama assumiu o governo do Tibete. Novas negociações foram propostas em maio de 1951, quando os representantes do governo do Tibete ameaçados por ataques ainda mais agressivos, assinaram um acordo que formalizou a condição do Tibete como província autônoma da China.
Em setembro, as tropas comunistas lideradas por Mao Tsé Tung invadiram o Tibete, destruindo mosteiros, causando o aprisionamento e a morte de milhares de civis.
A população tibetana, na tentativa de expulsar o exército chinês de seu território, organizava rebeliões que terminavam em mais destruição e morte. A mais violenta ocorreu em março de 1959, com elevado saldo de mortes e de civis aprisionados e exilados. Sem a mínima garantia de segurança, o líder Dalai Lama deixou à capital, Lhasa, e transferiu-se para a Índia.
Durante a opressão chinesa, a resistência do povo do Tibete em preservar sua cultura e especialmente sua religião aconteceu e continua acontecendo, sem o emprego da violência. O governo chinês incentivou a migração chinesa que, juntamente com os massacres, reduziu a população tibetana. As construções modernas, também de responsabilidade chinesa, vão substituindo os traços da arquitetura tradicional. Até a prática da religião do Tibete possui rigorosa vigilância do governo chinês.
O atual líder político e religioso, o Dalai Lama, percorre países do mundo inteiro buscando o apoio para o drama vivido por seu povo. No entanto, os avanços são limitados pelo poder da economia e política chinesa no contexto internacional, podendo, como membro do Conselho de Segurança da ONU, vetar qualquer decisão que ameace seu domínio no Tibete.
Enquanto a questão não se resolve, os recursos naturais, especialmente as florestas, são explorados intensamente.
Grande quantidade de lixo nuclear contamina o ambiente tibetano. Além disso, nascente s dos maiores rios asiáticos podem ser degradadas pelo desequilíbrio ambiental provocado pelas atividades econômicas dominadas pelos imigrantes chineses.
Para concluirmos o tema, é importante que se entenda que na geopolítica sempre podem ocorrer novidades a qualquer instante. Em março de 2005, foi divulgada pela imprensa uma notícia dando conta de que o Dalai Lama estaria disposto a reconhecer a soberania chinesa sobre o Tibete. Em troca disso, deveriam ser preservados os valores culturais, espirituais e ambientais dos tibetanos.
Podemos supor que o desenvolvimento econômico do gigante chinês, com certeza, deve ter sido o principal elemento motivador para a mudança de postura do líder espiritual do Tibete. Como em um jogo de xadrez, será necessário acompanhar com muita atenção os próximos movimentos que ocorrerão na região e que, com certeza, serão divulgados pela mídia.
7. Outros conflitos
Durante a Guerra Fria, o continente asiático foi palco de diversos conflitos envolvendo o sistema capitalista estadunidense e o socialista soviético.
Entre os muitos impactos geopolíticos desse período, destaca-se a Guerra da Coreia, na década de 1950, fragmentando o antigo território em dois países: Coreia do Norte, que até hoje mantém o regime socialista, e Coreia do Sul, que atingiu elevado padrão industrial e social.
Com o fim da Segunda Grande Guerra e fragmentação territorial, a Coreia do Norte iniciou sua corrida armamentista. Em 2002, foi incluída pelo presidente estadunidense George Bush no “eixo do mal”, juntamente com o Irã e o Iraque.
Os testes nucleares praticados pela Coreia do Norte representam um desafio para as potências capitalistas. As exigências da ONU e dos Estados Unidos para que os testes nucleares fossem encerrados não tiveram sucesso. Em 2005, a Coreia do Norte anunciou pela primeira vez a existência de um arsenal nuclear. Testes nucleares subterrâneos foram divulgados em 2006 e 2009. Esses fatos abalaram ainda mais as relações internacionais com o país.
Outra disputa histórica foi a Guerra do Vietnã (1963-1975), conflito que envolveu o Laos e o Comboja, incansavelmente lembrado nos filmes pela destruição e violência, despertou protestos no mundo todo.
O Continente asiático, em todas as direções, possui vários movimentos de lutas separatistas associados às diferenças étnicas e religiosas, como em províncias chinesas, no Sri Lanka, no Afeganistão, os curdos no Iraque, e outro mais recentes ou mais antigos que a cada ano elevam os índices de morte, violência e destruição.
O século XXI teve início com o surgimento de um novo país, o Timor Leste, marcado por uma história de luta incessante contra o domínio da Indonésia, que finalmente reconheceu, em 5 de maio de 2002, a independência da nação timorense.
Com tantas histórias inacabadas em toda a extensão do maior e mais populoso continente, a delimitação das fronte