Guerra Fria
A Guerra Fria estabeleceu um clima tenso entre as grandes potências da pós-Segunda Guerra
Nos fins da Segunda Guerra Mundial, os países aliados se reuniram na Conferência de Yalta para discutirem a organização do cenário político e econômico do pós-guerra. Já nesse encontro, Estados Unidos e União Soviética se sobressaíram como as duas maiores potências do período. Contudo, as profundas distinções ideológicas, políticas e econômicas dessas nações criaram um clima de visível antagonismo.
Preocupada com o avanço da influência do socialismo soviético, os norte-americanos buscaram se aliar politicamente a algumas nações da região balcânica. Em contrapartida, os soviéticos criaram um “cordão de isolamento” político que impediria o avanço da ideologia capitalista pelo restante da Europa Oriental. Essa seria apenas as primeiras manobras que marcariam as tensões ligadas ao desenvolvimento da chamada “Guerra Fria”.
O confronto entre socialistas e capitalistas ganhou esse nome porque não houve nenhum confronto direto envolvendo Estados Unidos e União Soviética. Nessa época, a possibilidade de confronto entre essas duas nações causava temor em vários membros da comunidade internacional. Afinal de contas, após a invenção das armas de destruição em massa, a projeção de uma Terceira Guerra Mundial era naturalmente marcada por expectativas desastrosas
Geralmente, percebemos que os episódios ligados à Guerra Fria estiveram cercados por diferentes demonstrações de poder que visavam indicar a supremacia do mundo capitalista sobre o socialista, ou vice-versa. Um primeiro episódio de tal natureza ocorreu com o lançamento das bombas atômicas em território japonês. Através do uso dessa tecnologia, o mundo capitalista-ocidental visava quebrar a hegemonia socialista no Oriente.
Logo em seguida, os soviéticos bloquearam a cidade de Berlim em reação contra a tentativa de garantir a hegemonia política capitalista na região. Em resultado desse confronto, o território alemão foi dividido em dois Estados: a República Federal da Alemanha, de orientação capitalista; e a República Democrática Alemã, dominada pelos socialistas. Nessa mesma região seria construído o Muro de Berlim, ícone máximo da ordem bipolar estabelecida pela Guerra Fria.
Buscando garantir oficialmente o apoio de um amplo conjunto de nações, os Estados Unidos anunciaram formulação do Plano Marshall, que concedia fundos às nações capitalistas, e logo depois, a criação da OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte. Por meio dessa última organização militar, os capitalistas definiram claramente quais países apoiariam os EUA em uma possível guerra contra o avanço das forças socialistas.
Essa seria apenas uma pequena amostra da truculenta corrida armamentista que se desenhou entre os capitalistas e socialistas. Como se não bastassem tais ações, a Guerra Fria também esteve profundamente marcada pelo envolvimento de exércitos socialistas e capitalistas em guerras civis, onde a hegemonia política e ideológica desses dois modelos esteve em pauta
Somente nos fins da década de 1980, quando a União Soviética começou a dar os primeiros sinais de seu colapso econômico e político, foi que essa tensão bipolar veio a se reorganizar. Antes disso, conforme muito bem salientou o historiador Eric Hobsbawm, milhares de trabalhadores, burocratas, engenheiros, fornecedores e intelectuais, tomaram ações diversas em torno da ameaça de uma desastrosa guerra.
A ordem geopolítica internacional "Bipolar"
As décadas do pós 2ª guerra mundial, viram o surgimento de um período sem precedentes na história da humanidade. De 1947 (lançamento da doutrina Trumman) á 1989 (queda do muro de Berlim), o mundo viveu o período conhecido como "Guerra Fria", no qual dois países hegemonizaram o poder mundial. EUA e URSS foram as superpotências do período e o mundo todo passou a orbitar em torno desses dois países.
A Guerra Fria se ergue a partir do fim da 2ª guerra mundial, com a destruição da Europa e a decadência das tradicionais potências européias. A partir das conferências do pós guerra a bipolarização do espaço começa por materializar-se na própria Europa, onde a parte oriental desse continente passa a orbitar em torno da URSS, e a parte ocidental em torno dos EUA.
A grande divergência da Guerra Fria não esteve na economia, mas sim no marco ideológico, onde tínhamos de um lado os EUA claro representante da ordem mundial capitalista, e de outro lado a URSS, que representava o socialismo. As divergências ideológicas entre os dois países, acabaram gerando também divergências militares, que resultaram no que se chamou de "corrida armamentista", com o desenvolvimento de arsenais de destruição em massa (incluindo bombas atômicas), o que levou alguns a acreditarem que uma guerra real entre as duas superpotências poderia representar a destruição de todo o planeta, e a criação de organizações militares a fim de defender os interesses de ambos os lados, os EUA e seus aliados criaram em 1949 a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e a URSS junto com os países do leste europeu criaram em 1955 o Pacto de Varsóvia. Mas, apesar de toda tensão gerada pela corrida armamentista, na realidade uma guerra direta entre os dois nunca ocorreu, ocorreram sim muitos conflitos indiretos, onde ora um, ora outro, estavam envolvidos, como a Guerra da Coréia, do Vietnã, a ocupação do Afeganistão, etc. As ditaduras militares na América Latina são parte da história da Guerra Fria nas quais houve uma clara participação dos EUA, afim de colocar governos pró-EUA no poder. Além da corrida armamentista, travou-se também entre as duas superpotências uma guerra de propaganda, onde cada um dos lados procurava denegrir o outro e exaltar a si próprio.
Os maiores símbolos da Guerra Fria
Sem sombra de dúvidas os maiores símbolos da Guerra Fria, foram a bipartição da Alemanha e o Muro de Berlim, pois eles representaram a clara divisão existente no mundo entre o capitalismo e o socialismo, ou seja entre os interesses dos EUA e da URSS.
A Alemanha, grande derrotada na 2ª guerra mundial, foi ao fim desse conflito divida em quatro zonas de ocupação entre os 4 grandes vencedores da guerra, dessa divisão surgiram a duas Alemanha, na parte oriental uma Alemanha sobre influência da URSS, que passou a se chamar República Democrática Alemã, com capital em Berlim Leste; e na parte ocidental surgiu República Federal da Alemanha, com capital na cidade de Bonn.
Na cidade de Berlim, que também havia sido dividida em quatro zonas de ocupação ao fim da guerra, foi construído a mando dos soviéticos em 1961, um muro que passou a dividir a parte ocidental capitalista, da parte oriental socialista, passando a se tornar o maior de todos os símbolos da Guerra Fria, esse muro só viria a ser derrubado em 1989, quando o regime socialista soviético e de todo o leste europeu, passou a ruir.
A reordenação política e econômica do espaço mundial
a) A reordenação política: No pós 2ª Guerra Mundial ocorreu a tentativa de reorganização da ordem econômica e política do espaço mundial. No campo das relações políticas, foi criada a Organização das Nações Unidas, a ONU, em 1945 na Conferência de São Francisco nos EUA. Essa organização surgiu com objetivo, segundo sua carta de princípios, de preservar a paz e a segurança no mundo, além de promover a cooperação internacional para a resolução de problemas econômicos, sociais, culturais e humanitários, ela tem sua sede em Nova Iorque nos EUA.
A ONU é constituída de vários organismos, dentre os quais os dois mais importantes são: a Assembléia Geral e o Conselho de Segurança.
Na Assembléia Geral estão presentes as delegações de todos os países membros. Ela reúne-se anualmente ou em casos de emergência, mas não tem poder de decisão sobre questões de segurança e cooperação internacional, apenas pode fazer recomendações ao órgão principal que é o Conselho de Segurança.
O Conselho de Segurança, por sua vez é o organismo mais importante da ONU, pois ele tem poder de decisão. Ele é constituído por 15 países, dos quais 10 são eleitos a cada dois anos, e 5 são permanentes (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia, antes URSS), esses 5 tem também o poder de veto, ou seja, a ONU só atua se houver consenso entre eles, o que durante a Guerra Fria era quase impossível, devido aos interesses conflitantes entre as superpotências.
A partir das comemorações de 50 anos de fundação da ONU, iniciou-se uma campanha pela ampliação do número de membros permanentes no Conselho de Segurança, países como Japão, Alemanha, Brasil, África do Sul e Índia, reivindicam um lugar nesse organismo.
b) A reordenação econômica: No plano econômico, foi realizada nos EUA a conferência de Bretton Woods em 1944, onde a potência norte-americana se valendo do fato de ter acumulado com o conflito cerca de metade da riqueza mundial impôs as regras do jogo. As principais medidas tomadas na conferência foram: a criação do padrão monetário dólar-ouro, em substituição do padrão ouro, vigente até aquele momento, e a criação de organismos internacionais importantes como Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), conhecido também como Banco Mundial, e do Fundo Monetário Internacional (FMI), ambos com sede em Washington nos EUA o que já demonstra a influência dos EUA nesses organismos.
Essas medidas visavam a reconstrução da economia mundial capitalista, mas com o acirramento da Guerra Fria, para garantir o sucesso da doutrina Trumman, os EUA lançou em 1947 o plano Marshall, a fim de reconstruir os países europeus destruídos pela guerra, e o Plano Colombo, na década de 50 para estimular o desenvolvimento dos países do sul e sudeste asiático.
Por sua vez a URSS criou o COMECON (Conselho de assistência Econômica Mútua), organização que tinha por objetivo estimular o desenvolvimento dos países socialistas aliados da URSS, através de ajuda dada por esse país, como o que aconteceu com CUBA.
A regionalização do espaço mundial no período da Guerra Fria
A regionalização do espaço mundial sempre foi uma preocupação da geografia. A regionalização do espaço mundial mais tradicional que tem sido a muito tempo utilizada é aquela que divide o mundo em continentes, tendo por base os aspectos físicos , ou os aspectos histórico culturais.
Durante a Guerra Fria, duas formas de regionalização do espaço mundial foram muito utilizadas:
• A divisão Leste X Oeste: criada em função da localização geográfica das superpotências. Tinha no Oeste o bloco de países capitalistas, alinhados aos EUA, e no Leste o bloco de países socialistas, alinhados a URSS. Na Europa se deu a clara materialização dessa regionalização onde existia a chamada "Cortina de ferro", separando a Europa Ocidental da Oriental. Mesmo aqueles países localizados no Oeste que se alinhavam a URSS, eram agrupados no Leste, assim como o inverso também ocorria.
• Os três mundos: essa regionalização foi criada a partir do artigo escrito por um jornalista francês chamado Alfred Sauvy, no qual o mundo seria como a França antes da Revolução Francesa, dividida em 3 estados. Para Sauvy, o mundo pós-2ªGuerra estaria dividido em três, sendo :
a) Primeiro mundo: constituído pelos países capitalistas desenvolvidos, como, EUA, Canadá, países da Europa Ocidental, Japão, Austrália e Nova Zelândia.
b) Segundo mundo: constituído pelos países socialistas, como, URSS, países do Leste Europeu.
c) Terceiro mundo: constituído pelos países subdesenvolvidos, como, países da América Latina, da Ásia, da África.
Durante a Guerra Fria, alguns chegaram a falar em um quarto mundo, que seria constituído pelos países mais pobres do mundo de economia basicamente primária, e com profundos e caóticos problemas sociais.
O fim da velha ordem bipolar
Desde a queda do muro de Berlim, em 1989, um dos assuntos mais discutidos, na imprensa e nos círculos acadêmicos, é a emergência de uma "nova ordem mundial". O termo foi lançado por George Bush, presidente dos EUA, de 1989 a 1992. Trata-se de um arranjo geopolítico e econômico internacional que permeia as relações entre os países.
A nova ordem mundial apresenta basicamente duas facetas, uma geopolítica e outra econômica. Na geopolítica, a grande mudança foi o fim da Guerra Fria e, portanto, da bipolarização de poder entre as duas superpotências e dos blocos por elas comandados. Na economia, os fatos novos são o processo de globalização e a tendência de formação de blocos econômicos regionais.
Desde 1989, a humanidade tem assistido perplexa a uma série de acontecimentos, até então impensáveis. A queda do Muro de Berlim era um fato inimaginável, pelo menos a curto prazo, da mesma forma que a reunificação da Alemanha, ocorrida em 1990.
Em julho de 1991, outro símbolo da Guerra Fria desapareceu. Reunidos em Praga, na então Tcheco-Eslováquia, representantes dos países membros do Pacto de Varsóvia formalizaram a sua dissolução. Era o fim do conflito Leste x Oeste. Esses pontos cardeais deixavam de Ter uma conotação ideológica e retomavam seu significado intrinsecamente geográfico.
Finalmente, em dezembro de 1991, foi selada a desagregação política e territorial da URSS. Era o fim do império vermelho da Rússia, o presidente Boris Yeltsin reuniu-se com os chefes de Estado da Ucrânia e Belarus. Nesse encontro, foi firmado o Acordo de Minsk, criando a Comunidade de Estados Independentes (CEI) em substituição da extinta URSS. Composta por doze ex-repúblicas soviéticas, a CEI não é um Estado, mas um acordo econômico e geopolítico entre Estados independentes.
Depois de todos esses acontecimentos, pode-se afirmar que a Guerra Fria chegou ao fim; no entanto, permanecem tensões nas relações entre as atuais potências do mundo, que continuam investindo em seu poder militar.